3 de maio de 2012

Reflexão sobre Justiça à luz da doutrina espírita

Justiça do Além



"Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo." Os ensinamentos de Jesus no Evangelho de Allan Kardec, que se tornaram base da doutrina espírita, são seguidos ao pé da letra por um grupo de magistrados, promotores, advogados, delegados de polícia, investigadores e escrivães. Associados em nome do espiritismo, têm como máxima humanizar a relação entre eles e as partes envolvidas em dramas sociais.


"Atrás de dramas judiciais, há dramas humanos. Existem mágoas e rancor. O profissional do Direito precisa ter sensibilidade para entender isso e desarmar os conflitos", explica o juiz José Carlos De Lucca, integrante da Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas ? entidade que reúne mais de 700 juízes e ministros de tribunais superiores.


Vidas passadas


De Lucca atua na área cível. Ele diz que, muitas vezes, o juiz se vê diante de situações que semeou em vidas passadas, como a injustiça, a discórdia, a iniqüidade e, agora, tem a oportunidade, pela misericórdia divina, de voltar ao mesmo cenário e modificá-las.


"Se não agir com ética e justiça, amanhã o juiz será julgado de acordo com a sentença que deu. Se não foi zeloso, também enfrentará pessoas não zelosas com ele. Se for parcial, atrairá situações de parcialidade", diz.


Presidente da União dos Delegados Espíritas de São Paulo e coordenador do Disque-Denúncia, o delegado João Francisco Crusca afirma que não se pode confundir espiritismo com mediunidade nem achar que a intervenção de entidades espirituais ajudará a esclarecer crimes misteriosos, como na TV.


"Nada melhor do que perguntar à própria vítima de homicídio quem a teria assassinado. Não precisaríamos mais de policiais nem de juízes, tudo seria revelado pelos mortos, poupando um monte de trabalho e despesas. Além disso, não cometeríamos injustiças, punindo inocentes e absolvendo culpados. Mas não podemos nos iludir com aquilo que não conhecemos", alerta Crusca, que trabalha com curas espirituais em uma casa espírita.


O delegado alerta que os próprios médiuns podem ser vítimas de enganos e ilusões, quando pensam poder manipular espíritos para fazê-los trabalhar para eles quando quiserem. "Gostamos de ver os desencarnados resolverem os problemas por nós. Vamos pedir informações sobre vida afetiva , doenças, trabalho e até números premiados da loteria. Mas os espíritos superiores, que ditaram as bases da doutrina espírita, esclareceram, em várias oportunidades, que não podem substituir o trabalho humano ou violar o livre-arbítrio."


Professor de direito processual em pós-graduação, o delegado aposentado Bismael Batista de Moraes diz que um dos objetivos da doutrina espírita é fazer o policial agir com mais ética.


Segundo Bismael, há 10 anos, quando a União dos Delegados nasceu, muitos policiais, por desconhecer a doutrina, chegavam a falar com desdém. "Eles faziam brincadeiras, do tipo ?você já recebeu seu caboclo hoje??. Mas, agora respeitam, procuram conhecer e às vezes até freqüentam as nossa reuniões mensais", conta.


Transformações morais


O promotor de Justiça Tiago Cintra Essado, presidente da Associação Jurídico Espírita do Estado de São Paulo, diz que o espiritismo provoca transformações morais.

"Não é porque uma pessoa errou que ela será tratada com ódio, com descaso. Ela é um ser humano. Então, no caso do promotor, ele tem que ter a consciência de que é depositário do cargo que ocupa e precisa prestar contas. Não pode tratar o processo mecanicamente."


O delegado aposentado Orlando Padovan lembra que ser bom e caridoso não significa deixar o bandido solto, mas entender que, quando cometeu o crime, sofria processo de desequilíbrio das forças vitais. Padovan faz pinturas mediúnicas há 20 anos, desde que uma voz lhe pediu para comprar tintas e tela.

Crítica à prova psicografada


O juiz José Carlos De Lucca conta que, certa vez, um jovem advogado entrou em sua sala como se estivesse empunhando uma espada. Jogou o processo em sua mesa e disse: "Dá para despachar logo ou vou ter que esperar mais?" Pasmo, De Lucca sentiu o sangue ferver. Abaixou a cabeça para respirar e ouviu uma voz. "E se esse jovem advogado fosse seu filho, como gostaria que ele fosse tratado?"

Ainda aturdido, De Lucca levantou a cabeça e, no rosto do advogado viu a imagem do filho refletida. Ele entendeu a mensagem: "Se fosse meu filho, gostaria que o juiz tivesse compaixão por ele", diz.


Essa experiência é narrada pelo juiz em seu livro "Vale a Pena Amar", que reúne diversas histórias e ensinamentos vivenciados por De Lucca ao longo de sua vida. Foi o oitavo livro que escreveu desde 1999. O dinheiro das vendas é doado a instituições de caridade.


Com fala mansa e olhar fraternal, De Lucca está sempre pronto para oferecer uma palavra de conforto e esperança a quem precisar. O carinho também é transmitido nos livros.


Espírita desde o berço, De Lucca diz que, em um julgamento, receberia com muitas reservas uma prova psicografada.


"Como dizia Chico Xavier, na comunicação mediúnica o telefone toca de lá para cá, nunca daqui para lá. Como se compram testemunhas, compram-se médiuns", conclui.


Encontro com Chico Xavier


Delegado de polícia há 20 anos, João Demétrio Loricchio tem o dom de se transportar para a vida espiritual quando se deita.


"As visitas parecem que duram o dia todo, mas quando volto passou só uma hora", conta.


Demétrio visita colônias do além, participa de palestras e faz pesquisas que servem de apoio para escrever livros, entre os quais "Demetrius ? Das Trevas à Santidade". Ele fala das encarnações de Demetrius, que, em uma de suas vidas, na época de Jesus, foi gladiador.
O delegado conta que, em 30 de junho de 2004, durante uma "viagem", foi levado para assistir a uma palestra de Chico Xavier na espiritualidade.


"Fazia dois anos que ele havia desencarnado. Era um galpão imenso, lotado. Fiquei deslumbrado quando vi o Chico. Pequeno, com terno resplandecente e rejuvenescido", lembra.
 
Fonte: http://www.diariosp.com.br/index.php?id=/viva/blog/materia.php&cd_matia=49604

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