19 de outubro de 2014

Sim, o advogado deve cobrar consulta

Uma questão de respeito consigo mesmo e com o cliente.

Não conheço ninguém que reclame de pagar a consulta do médico, psicólogo, nutricionista ou de qualquer outro profissional liberal. Só a do advogado.

A análise de uma demanda trazida por um cliente já é trabalho, que pode ou não desencadear em uma ação judicial.

O grande erro de muita gente, aí incluindo advogados, é o pensamento equivocado sobre o que faz um advogado. Parece que muitos não possuem a verdadeira noção do que este profissional faz. A estes deve ser informado que advocacia não é sinônimo de atuar apenas em processos.

Não existe "tirar só uma dúvida". O que permite ao advogado resolver questões jurídicas é o conhecimento acumulado em cinco anos de faculdade, e em diversas especializações, cursos e estudos individuais.

O advogado deve ser um facilitador do Direito. Mas isto tem um preço. Se o advogado tiver que analisar documentos, fatos entre outras coisas para saber se o Direito está ou não ao lado do cliente, terá que investir tempo (em algumas situações dinheiro) e pesquisas (afinal, ninguém é uma biblioteca sobre pernas), isto deve sim ser remunerado.

Advogados não vendem produtos. Apresentam soluções através de orientações ao cliente sobre o que fazer ou deixar de fazer para conseguir isto. Como dito acima, nem tudo na vida "dá processo". E esta análise - remunerada - cabe ao advogado.

A não cobrança de consulta até pode se justificar, por exemplo, se houver contratação de outros serviços posteriormente, se houver contratos de êxito (lembrando que nem todo tipo de causa pode ser feita assim), ou qualquer outra política de relacionamento com o cliente que não implique em aviltamento de honorários ou da dignidade da profissão. Mas ainda assim, são medidas excepcionais.

O pensamento de evitar cobranças de consulta, ou mesmo de valores que sejam justos em quaisquer serviços advocatícios faz uma diferenciação entre dois perfis: pessoas que procuram qualidade e pessoas que procuram baixo preço.

Abaixar o nível para atrair clientes que procurem preços baixos não é garantia de sucesso. Aliás, é quase garantia de fracasso, ainda que em longo prazo. Se o advogado gostar de ser o "doutor baratinho", ele vai trabalhar mais, ter mais despesas, mais estresse, mais acúmulo de trabalho e será trocado por outro que cobrirá a oferta, cedo ou tarde.

Quem é atraído por não ter que "coçar o bolso" não dará a menor importância a qualidade, confiança ou honestidade de seu trabalho. Esta forma de pensar é o que diferencia advogados que se tornam bem sucedidos e por consequência prestam serviços de maior qualidade e realmente gostando do que fazem daqueles que passam a vida a reclamar da profissão e dos ganhos.

Ademais, o conhecimento popular diz que "o barato pode sair caro". Um advogado que oferece o baixo preço como cartão de visitas pode não ter nada melhor a oferecer. Assim, deve ser pensado pelo cliente se é válido confiar algo a quem só possui baixos preços como referência. O que sua experiência de vida te diz sobre isso? Faça uma autorreflexão.

Por isso, via de regra, o bom advogado, aquele que respeita o cliente, que verdadeiramente se empenha, deve cobrar a consulta, salvo as exceções já mencionadas nesse texto.

Thiago Araújo
Advogado e Consultor Jurídico

Fonte: JUS Brasil 

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