26 de março de 2012

A despedida de Marco Antonio Birnfeld

Colegas leiam a despedida do advogado e jornalista Marco Antonio Birnfeld  e os comentários de colegas. Vale a pena!Um dia todos nós nos despedimos, mas a despedida do Birnfeld me sensibilizou muito.
Wanda Siqueira

A despedida do Espaço Vital

(13.03.12)
Por Marco Antonio Birnfeld,
advogado (OAB/RS nº 6.477) e jornalista

Já está chegando a hora de ir,
Venho aqui me despedir e dizer:
Em qualquer lugar por onde eu andar,
Vou lembrar de você.
Só me resta agora dizer adeus
E depois o meu caminho seguir.
O meu coração aqui vou deixar,
Não ligue se acaso eu chorar,
Mas agora adeus...
(Roberto Carlos, "A Despedida")

Talvez os leitores mais fiéis do Espaço Vital recordem de uma crônica que aqui postei, em 17 de abril de 2009, anunciando a compulsória diminuição das minhas atividades profissionais: fazer uma Advocacia mais lenta e limitar o EV a duas edições semanais.
Contei-lhes sobre um texto contido numa Antologia Portuguesa que li, nos anos 50, quando estudava no saudoso Ginásio São João Batista, em Montenegro, onde o Irmão Luis Benício me ensinou a gostar de ler bastante e escrever muito. Uma frase naquele livro afirmava que "nascimento, batismo, casamento, aposentadoria, morte, estão entre os principais momentos da vida do indivíduo".
O texto acrescentava que "o grupo social faz marcar certos momentos de cerimônias próprias - como por exemplo, a dos cuidados especiais com a criança, a da união dos casais nas igrejas, a da aposentadoria, a dos velórios - que são chamados de ritos de passagem".
Pois em maio de 2009, após o retempero de três semanas no Nordeste brasileiro, voltei com força total e, entre outras coisas, o Espaço Vital retomou a sua periodicidade habitual (edições completas, atualizadas, em todos os dias úteis; ufa!).
Com a minha idade provecta, reconheço que qualquer que seja a profissão do idoso, quaisquer que sejam as vivências que ele acumulou – a experiência é sempre um bem precioso que a juventude aprecia.
O juiz aposentado e escritor capixaba João Batista Herkenhoff já escreveu que - como sucessores das gerações que partem - "os jovens precisam de estímulo para escolher caminhos que contrastem com o modelo social dominante; este dá mais relevância ao ter do que ao ser".
Tal como o magistrado mencionado, tenho plena consciência da inferioridade dos meus meios disponíveis, agora, para a pregação do SER. Os meios de que se valem os operadores do TER são infinitamente mais poderosos.
Sei que não vou conseguir ver arrumada a Justiça brasileira! Noticiei aqui que, cheia de ácaros, uma ação está há 52 anos para ser julgada no STF; também escrevi, esta semana, sobre a tramitação atual de 86 milhões de processos nos foros e tribunais brasileiros. Repito o número: 86 milhões - e cito o nome da fonte (ministro Jorge Mussi), que publicamente, no saite do STJ, advertiu que "a sociedade brasileira está perdendo a paciência com o Judiciário".
Ontem vi o último mapa estatístico de 2011 do TJRS, com 54.636 processos à espera de julgamento. O levantamento não impressionaria ante o número de integrantes da corte (140). Mas enquanto há desembargadores que estão zerados e com o serviço rigorosamente em dia, em alguns gabinetes se acumulam 3.700, 2.400, 2.200 processos etc. (e com alguns deles pensando em se aposentar e, assim, deixando a carga como herança para os substitutos).
Os dados são de novembro/2011 e de lá para cá o mais provável é que esse número já tenha aumentado. Afinal dezembro foi "meio mês" e as coisas foram lentas, muito lentas, em janeiro e fevereiro - mas a avalanche de processos continuou chegando.
Prometo que se oportunamente vier a redigir um Espaço Vital Extra, vou tratar com detalhes dessa deformidade (alô, corregedora Eliana Calmon, quem sabe a senhora, antes, dá uma olhada nisso?...).
Meu elogio a aqueles desembargadores gaúchos que estão zerados ou com menos de 500 processos para julgar. (Sim, é possível isso!). No final deste artigo, disponibilizo link revelando nominata e números dos que estão com o serviço em dia. (Claro, em se tratando de estatística, há quem possa contestar os critérios).
Uso estas referências para informar aos prezados leitores que, na Internet, esta é a última edição periódica, diária e habitual do Espaço Vital. Recomendação médica me diz que devo reduzir o ritmo febril de trabalho jornalístico. Quase três anos depois daquele 17 de abril de 2009, faço uma nova retirada, agora - digamos - maior; talvez completa, definitiva.
Já setentão em idade, recolho-me à beira-mar e à mais constante companhia da minha incomparável mulher.
Em 2011 perdi, numa sucessão impressionante, sete pessoas próximas. No dia 2 de janeiro deste ano, um outro amigo se foi. E dentre estas oito almas, permitam que eu traga aqui - homenageando os demais - o nome do meu saudoso finado amigo Clóvis Duarte, o comunicador. Ele trabalhou até a data em que, em maio do ano passado, baixou ao hospital onde, 51 dias depois, faleceu em 19 de julho do ano passado.
Não quero seguir esse modelo de contrição ao trabalho do Clovis. Passo a ficar devagar enquanto é tempo, doravante, para que me seja possível dizer que fui parando alguns anos (oxalá!) antes da minha última viagem.
Peço finalmente escusas a todos aqueles que enviaram colaborações, dicas, informações etc e que, ante as contingências de agora, não chegaram a ser inseridas no Espaço Vital. E dentre todos aqueles a quem poderia elogiar por terem "vestido a camiseta" do Espaço Vital, pontifico publicamente o nome de minha secretária Shirlei Knak, a "operadora executiva" sempre atenta para fazer as inserções. Vai também uma referência elogiosa à empresa Desize que criou a roupagem do EV e seu jeito de chegar aos leitores.
Sigo mantendo duas vezes por semana uma página inteira no Jornal do Comércio, como já o faço há 40 anos; ela estará também disponível na Internet. E eventualmente, quando eu tiver "coceira criativa", vou disparar um boletim informativo que pode se repetir a cada 20, 30, 50 dias. Ou nunca!
Peço desculpas por ter-me alongado. É a emoção! Felicidade a cada um dos leitores!
marco@espacovital.com.br

E os que se foram antes da hora combinada, logo após uma infância vulgar? Todo pranto desse cenário não é algo natural, pois existem finais imprevisíveis, a nos retirar a borra de consolo ainda grudada na parte de dentro da alma.
Por que, então, “ser conformado, se avançarmos para a morte como para a boca de um réptil?”.
Isso basta para se erguer uma elegia à vida, depois dos amigos mortos. E já são tantos, para mim, que eu poderia ocupar um quarteirão na memória só com a saudade deles.
(Juiz Afif Jorge Simões Neto; crônica intitulada ´Quando morrem os amigos´, no livro "Um pequeno rio não corre para o mar").

Homenagem a quem julga

Um elogio do Espaço Vital e do autor deste artigo aos desembargadores e juízes convocados que, prestando jurisdição no TJRS, se destacaram pela produção.
Para ver a estatística, clique aqui.

Fonte: http://www.espacovital.com.br/noticia-26772-despedida-do-iespaco-vitali



É com imensa tristeza que registro a despedida do Advogado e Jornalista MARCO ANTONIO BIRNFELD, sempre presente na vida de todos os operadores do direito através da sua conceituada revista eletrônica Espaço Vital.
Há mais de trinta anos sou leitor do Espaço Vital, lia-o enquanto encarte no jornal do comércio de Porto Alegre, antes da internet.
Tenho grande estima pelo Dr. Birnfeld, pela pessoa e pelo profissional que ele é e que dispensam comentários, e, também, pelo interesse que ele sempre demonstrou pelo CASO DAS MÃOS AMARRADAS no qual sou procurador, sempre acompanhando o assunto no decorrer de décadas, dedicando grande espaço jornalístico às notícias sobre o processo, e, também sempre dedicou espaço aos meus artigos e manifestações, além de ser uma voz muito forte e vibrante em defesa da advocacia gaúcha.
Senti uma dor profunda ao ler sua despedida a qual está disponível no link abaixo, mas a vida é assim mesmo e saber sair de cena é uma arte tão importante quanto saber entrar em cena.  Portanto, é preciso sair de cena com dignidade e classe e o colega Birnfeld sai de cena como um lorde inglês, no auge do sucesso, enquanto sua estrela brilha.
Não tendo mais palavras para expressar meus sentimentos, pois, não tardará  eu também sairei de cena, assim, deixo aqui como minhas, as palavras contidas no poema de Camila Patrícia Milani:


Viver é uma arte
E o espetáculo tem que continuar...
Encerro a minha parte,
Saio de cena.
Às vezes a morte do coadjuvante
É extremamente necessária
Para que a vida siga adiante
E tenha um final feliz.
A única cortina a ser fechada,
São minhas retinas cansadas.
A morte é solitária e fria...
Mesmo para quem só fez uso do amor,
Da verdade e da poesia.
Fim do ato,
Ora de partir...
Parto.
O romper dói...
Mas abdico desse amor
E humanamente ferida
Sigo o curso da história
Para não mexer com o script da vida.
Apenas saio de cena
Encerrando meu ato
Com este sincero poema.
Camila Patrícia Milani


Um forte abraço a todos.
Deus abençoe!
ROGOWSKI, João-Francisco.
Fonte: http://www.espacovital.com.br/noticia-26772-despedida-do-iespaco-vitali 



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Legal o teu comentário (http://praiadexangrila.com.br/a-despedida-de-marco-antonio-birnfeld).
O recolhimento espontâneo dele me impactou  por me lembrar que todos caminhamos na mesma direção, qual seja,  para trás da cortina do palco da vida, saindo de cena algum dia.
A meu ver ele poderia ficar ainda mais alguns anos, pois, hoje em dia, ninguém mais é considerado velho aos 70 anos de idade, tem muitos setentões trabalhando e produzindo. Basta ver os exemplos do Dr. Sobral Pinto e Lia Pires que nunca pararam de trabalhar assim como Oscar Niemeyer. 
Creio que no caso dele tem mais a ver com desgosto por ver que nas últimas décadas a situação da justiça no Brasil só piorou e continua piorando caminhando a passos largos para a falência total. 
É grande o contingente de profissionais que estão abandonando a área jurídica em face à ineficiência do judiciário, pois, a clientela não quer saber de explicações e a culpa acaba caindo sobre os Advogados pela eternização dos processos. Hoje é mais rentável abrir uma administradora de imóveis, agência de turismo, cursinhos variados ou outro negócio qualquer e ganhar a vida sem sobressaltos, semstress, diminuindo consideravelmente as chances de um enfarte ou derrame cerebral, de modo que eu lamento, mas não critico a decisão do Birnfeld. 


Fraternal abraço 
Rogowski
https://twitter.com/dr_rogowski 


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Estimado colega Rogowski,

Quando li  sobre a despedida do Birnfeld confesso que no primeiro momento levei um susto.
Sempre admirei muito o trabalho dele, o coleguismo e a paixão pela escrita que durante anos enriqueceu a cultura jurídica de todos nós através do EV. Passado o susto me dei conta de que ele está certo ao desejar diminuir o ritmo de trabalho (escrever quando quiser e se quiser). Fiquei alegre e ao mesmo tempo triste porque já estamos acostumados a ler as notícias do Espaço Vital e nesse espaço ver publicado um pouco do trabalho da nossa classe.
O colega me fez sentir que o tempo passa depressa e que em determinado momento precisamos tomar uma decisão como a dele antes que a morte  ou uma doença grave nos surpreenda e nos obrigue a sair de cena compulsoriamente.
Lembrei da obra de Marco Túlio Cícero ‘Saber envelhecer’ e pensei que o Marco Antônio Birnfeld está sabendo envelhecer e que todos nós devemos aproveitar as lições do Marco Túlio e do Marco Antônio para fazer uma profunda reflexão sobre o trabalho, a vida, a saúde e a morte. Eu não sei ainda como farei para sair de cena, se de forma espontânea ou compulsória.
Posso afirmar que muitas vezes chego a pensar que os advogados dão os melhores tempos de suas vidas tentando equilibrar a balança da Justiça para depois de tanta luta concluir que a justiça da nossa utopia somente se expressa através da Justiça Divina.
Gosto muito deste trecho de Cícero  que me veio à lembrança com a emocionante despedida do colega Birnfeld:
"Por que eu temeria a morte se, depois dela, não sou mais infeliz, quem sabe até mais feliz? Aliás, quem pode estar seguro, mesmo jovem, de estar ainda vivo até o anoitecer? Mais ainda: os jovens correm mais o risco de morrer que nós. Adoecem mais facilmente, e mais gravemente, são mais difíceis de tratar. Assim, não são muitos a chegar à velhice. Se fosse de outro modo, o mundo viveria melhor e mais razoavelmente, já que a inteligência, o julgamento e a sabedoria são próprios dos velhos, sem os quais jamais teria havido cidades" 
Toda a beleza de uma idade, em um único parágrafo.
Sobre o quão efêmero é o nosso tempo enquanto seres encarnados, terrestres em contraste à imensidão do que podemos adquirir por meio de nossa imortal alma, fica muito bem elucidado neste trecho:
..."Mesmo nesse caso, não me decido a considerar "longo" o que de todo modo tem um fim. Quando esse fim chega, o passado desapareceu. Dele vos resta apenas o que vos puderam trazer a prática das virtudes e as ações bem conduzidas. Quanto às horas, elas se evadem, assim como os dias, os meses, os anos. O tempo perdido jamais retorna e ninguém consegue o futuro. Contentemo-nos com o tempo que nos é dado a viver, seja qual for!" 
O que adquirimos para a alma, é eterno.
..."considero a velhice tão fácil de suportar. Ela me parece bastante leve, até mesmo agradável. E, se me engano sobre a imortalidade da alma, é com muito gosto. Enquanto eu viver, recusarei sempre que me privem desse "erro" que me é tão doce. Se, como pensam certos pequenos filósofos, não há nada após a morte, então não preciso temer as zombarias dos filósofos desaparecidos. Se não estamos prometidos à imortalidade, mesmo assim continua sendo desejável extinguir-se no momento oportuno. A natureza fixa os limites convenientes da vida como de qualquer outra coisa. Quanto à velhice, em suma, ela é a cena final dessa pela que constitui a existência. Se estamos fatigados dela, então partamos, sobretudo se estamos saciados." 
Colega , me emocionei com a despedida do Birnfeld e desejo a ele muita saúde para desfrutar essa nova etapa da vida ,e me emocionei também com sua escrita sobre a  despedida dele.  Escrever é arte e o colega tem esse dom. Parabéns!
Um grande abraço.
Wanda Siqueira


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Estimada Colega Wanda,


Comovido e agradecido é como recebi sua mensagem, e, comungo com o citado excerto de Cícero:
Por que eu temeria a morte se, depois dela, não sou mais infeliz, quem sabe até mais feliz?
Eu creio no imenso amor de Deus por nós, na sua Graça e Misericórdia, portanto, depois da morte física com certeza não seremos mais infelizes, o mais provável é que até  sejamos mais felizes, pois, mesmo que tenhamos cometidos erros e os cometemos, ainda assim, um Ser Supremo e Misericordioso nos permitiria o repouso, a oportunidade de nos recompormos das lutas desta vida, clareando nossa percepção, de modo que o arrependimento nos sobrevenha e com ele o perdão do Deus benevolente abundante em Graça.
Em novembro do ano passado me formei em Teologia e durante o curso estudamos várias doutrinas e teorias sobre a vida além da vida, e de tudo o que estudei saí com somente uma única certeza, haja o que houver NADA DESBORDA DE DEUS!
Concluo agradecendo mais uma vez, e em especial pela elogiosa referência ao meu talento literário, o que credito a bondade de seu coração, pois, não me vejo dessa forma, e, mesmo que algum talento eu tivesse, não seria meu e sim emprestado de Deus para mim para alguma finalidade útil e proveitosa para os nossos semelhantes.


Fraterno Abraço do colega, amigo e irmão em Jesus Cristo.
João-Francisco.
https://twitter.com/dr_rogowski