11 de agosto de 2008

Reflexões sobre o Dia do Advogado

Wanda Marisa Gomes Siqueira
OAB/RS 11060

Alguns colegas chegam a pensar que pouco ou quase nada temos a comemorar no dia do advogado. Ouso discordar, com a devida vênia, daqueles que assim pensam e quero conclamá-los a comemorar esta data como sendo uma das mais significativas para a vida dos que militam nessa árdua e dignificante profissão com ética, perseverança e coragem.Somos nós, os advogados, que apontamos e exigimos junto ao Poder Judiciário o pouco de Justiça que ainda existe em nosso país tão impregnado de injustiça e corrupção. Somos nós que apontamos e levamos o clamor dos injustiçados aos tribunais que lamentavelmente titubeiam no momento de fazer Justiça, em nome da legalidade. Somos nós que conseguimos com nossos escritos, com nossa fala, com nossa luta, com nossos recursos e sustentações orais, sensibilizar os juízes e fazê-los aproximar a Lei da Justiça. Somos nós que apontamos e questionamos ilegalidades, atos de abuso de poder e atos de improbidade dos agentes públicos que violam os princípios da Carta Magna. Somos nós que apontamos e exigimos o fim da prática do crime de usura nos contratos bancários através de ações revisionais, protegendo, assim, o patrimônio e o direito de moradia. Neste cenário de injustiça, de desigualdade social e de imoralidade, sem dúvida alguma, é a classe dos advogados que está à frente da luta na defesa dos direitos fundamentais do cidadão - saúde, educação, moradia, propriedade, dignidade da pessoa humana, defesa da honra , proteção da imagem - direitos esses quase sempre violados pelo abuso e omissão dos poderosos. Somos nós, cada um de nós, em todos os cantos desse imenso país que publicizamos a violência praticada contra a mulher, crianças, adolescentes, estudantes, idosos e trabalhadores...Somos nós, por tudo que fizemos e continuaremos fazendo,ao longo dos tempos, merecedores de admiração, valorização e respeito. Devemos e podemos, portanto, andar de cabeça erguida nos tribunais, nas ruas, nas repartições públicas, sem nos curvar ao arbítrio daqueles que querem nos calar, desvalorizar e perseguir.Somos, com muito orgulho e honra, agentes de transformação social, indispensáveis à administração da justiça. Há muitos séculos lutamos incessantemente na defesa dos injustiçados, sempre buscando o aprimoramento das instituições sociais. Somos os guardiães da Carta Magna e os verdadeiros e mais autênticos defensores da cidadania.Em todos os tempos sempre foi assim, desde Santo Ivo, o protetor dos advogados, nunca os poderosos conseguiram calar a voz dos advogados. Nossa classe nunca se curvou ao arbítrio daqueles que lutam com todas as armas para fazer prevalecer o Direito da Força em detrimento da Força do Direito com a deliberada intenção de deixar a cidadania desamparada. O grande Rui Barbosa e o saudoso Juiz Eliezer Rosas concluíram; “sem advogado não há Justiça” e “sem advogado e sem Deus não há Justiça”, ambos estão absolutamente corretos, mas é bom lembrar que sem o entendimento de que existe uma Justiça além da Vida, não haverá Justiça no tribunais.Neste dia do advogado quero homenagear cada um dos colegas e lembrar com respeito e saudade daqueles que nos precederam na luta e que já partiram para um mundo que imagina-se e deseja-se mais justo, quero dizer-lhes que quando um advogado deixa a vida aqui na terra, apaga-se uma luz nos foros, nos tribunais, nos seus escritórios, nas suas famílias, mas acendem-se muitas luzes no mundo espiritual e essas luzes iluminam , intuem e fortalecem os que ficaram por mais um tempo neste mundo de poucas luzes e de escassez de Justiça.Ser advogado é ser quase um missionário na arte de desvendar injustiças, na arte de interpretar leis injustas, na arte de dar um pouco de esperança aos que estão cansados de ver triunfar os desonestos, de ver que permanecem impunes os que lesam os cofres públicos, os que perseguem os fracos, os que fraudam concursos, os que perseguem estudantes, os que não têm escrúpulos, os que não acreditam que existe Uma Justiça Além da Vida !

Data da primeira publicação: 11 de agosto de 2008